Álvares de Azevedo: Quase gótico

Este post é para confirmar a constatação do Átilio sobre o fato desse blog estar postando mais sobre literatura do que propriamente filosofia... mas afinal de contas... ninguem reclamou.
Álvares de Azevedo foi um dos poetas que mais gostei de ler na minha adolescência. Talvez seja pelo fato do teor melancólico de seus escritos casar tão bem com minhas crises juvenis.

Um dos traços marcantes de sua literatura era a temática da morte e o desejo pelo amor. Álvares fala com muita frequência de virgens puras, inalcançáveis, que causam frustração e dor (mas, na idade em que elas foram escritas, antes dos 20 anos, o que poderia passar pela cabeça dele). O sarcasmo esta bastante presente, até mesmo quando se refere a morte. Ele acreditava que a vida era um paradoxo, sentia-se impotente diante do mundo e somente a morte o libertaria dessa prisão.

Morreu aos 20 anos, vitimado por uma tuberculose e um tumor em decorrência de muitas quedas de cavalos (sua família criava cavalos... e não eram pangarés)

Uma das obras mais interessantes dele é Lira dos Vinte anos... muito bom.
De todos os escritos dele, o que mais gosto é este:
Soneto
Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!
(Álvares de Azevedo)
Até mais.

jn

2 comentários:

Anônimo 11 de novembro de 2008 às 12:03  

É ele mesmo, pelo que lembro das aulas de literatura (as que não cabulei), ele morreu virgem jurando amor eterno a irmã e a mãe!

Acho que esse cara nunca superou o complexo de Édipo!

Anônimo 12 de novembro de 2008 às 04:42  

Acredito que você tem razão. Suas frustações como as mulheres (as de seus escritos, nada consta de mulheres reais), eram consaladas por seu devotamento à sua mãe e irmã. Enumeras foram as cartas que escrevia a elas.

Por isso construia imagens de mulheres virgens, pelo fato dele mesmo ser. Até por que se ele fosse um boêmio safado, como outros de nossa literatura, com certeza falaria das raparigas, e não de virgens inalcançaveis.