MERECE REFLEXÃO

Parei de fazer um trabalho, que já está atrasadíssimo, para escrever isso. Espero que não me arrependa.

 

Essa semana minha irmã foi assaltada. Estava numa clínica, esperando para fazer um exame, quando os assaltantes chegaram e anunciaram o assalto. Levaram todo o dinheiro do cofre da clínica, além de bolsas, celulares e relógios dos presentes. Minha irmã não reagiu, mesmo assim foi ameaçada com uma arma encostada na cabeça. Na hora, ‘com aquela calma que só o desespero dá’ (como disse certa vez Jô Soares), entregou tudo que tinha. Os assaltantes foram embora e minha irmã foi para casa tranquilamente. Ao chegar e relatar a meu pai o acontecido, ela caiu em si. Desmanchou-se num choro que durou horas. Acho que só aí ela se deu conta, que qualquer gesto em falso ou brusco que fizesse, poderia levá-la a estar debaixo de sete palmos de terra há essas horas.

 

Bem, ao saber da história, revoltei-me e amaldiçoei os bandidos. Posso não ser o irmão mais atencioso do mundo, mas como não se chocar ante uma situação dessas?

 

Hoje, entre um trabalho e outro, parei pra pensar no ocorrido. Fiquei pensando se todas as pessoas que estavam naquela clínica, no momento do assalto, ficaram tão mal quanto minha irmã. Mais uma vez amaldiçoei os bandidos, pensando: como podem duas ou três pessoas causarem tanto mal (psicológico, físico, financeiro...) há outros tantos? Com que direito? Comecei a me questionar e logo estava me perguntando o que leva alguém a fazer coisas assim. Pois, cometer um crime, é um ato de tudo ou nada. Ele coloca a vida de outros em risco, mas também a sua. Posso estar raciocinando de forma errada, mas para um ser humano colocar sua vida em risco, ou é sua última alternativa ou ele não está em seu estado de consciência normal. Levando-se em conta que, neste caso específico, eram mais de um, a probabilidade de todos serem loucos é mínima.

 

Obviamente a pobreza não justifica o crime. Aliás, nada justifica atentar contra a dignidade física ou psicológica do outro. Contudo, se o Estado não tivesse falhado com esses indivíduos, tivesse cumprido sua função de lhes proporcionar acesso a educação, moradia, emprego; enfim, se tivesse cumprido seu dever de lhes proporcionar uma vida digna, isso tudo teria acontecido? Não seria o não acesso a educação, moradia, emprego, etc. um crime também (e neste caso, a quem caberia punir o Estado)? Assim, antes de cometerem esses crimes, quantos outros crimes o Estado e mesmo a sociedade não cometeram contra eles? Se analisarmos o caso, em todos os seus pormenores, seriam eles os reais responsáveis por aquele incidente?

 

Não. Não pretendo ser canonizado.

 

am.

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